gincana

Sobre gincana e felicidade
“- Você ainda está metida com essa coisa de gincana?”. Eu sou frequentemente questionada sobre isso. Aos colegas juristas, bastaria responder: “- Fredie Didier também” – o que me legitimaria a rasgar dinheiro ou coisa parecida, já que a credibilidade desse nome dá sentido a absolutamente qualquer coisa no meio jurídico. Mas vou tentar tecer uma retórica explicativa (não tão chata quanto esse termo, prometo) para os demais.
Até os vinte, vinte e poucos anos, até que somos perdoados (ainda estamos na faixa isenta de maiores cobranças). Mas, a partir dos 25, a era de aquário vira ditadura chinesa. Nos tornamos obsessivos em alcançar os propósitos padrões da vida adulta – dinheiro, sucesso profissional, um casamento formalmente bom –, para os quais passamos a viver exclusivamente dedicados. Como se reunir essas coisas fosse garantia eterna e infalível de felicidade. Assim mesmo, simplista e um tanto quanto prepotente – exatamente como a pergunta que iniciou esse texto todo.
Gincana é o oposto disso. É um (enorme) tempo gasto sem qualquer rastro de lucratividade. É energia despendida sem propósito adulto óbvio nenhum. Aliás, é quase contraproducente. É incoerente, é descompromissado, é bobo, é infantil. É todo mundo bagunçado, despenteado. É improviso puro. É o ‘avesso do avesso’ dessa lógica obsessiva tempo-dinheiro-aparência.
Mas é delicioso.
É reencontrar os amigos, é fazer tantos outros. É nostalgia pura; uma volta ao passado, um retorno àquele frisson leve e irresponsável dos 15 anos que só uma regressão mediúnica ou sessão de hipnose seriam capazes de proporcionar. É sensorial, não é racional. É despretensioso.
É todo mundo genuinamente feliz, mesmo não estando nem um pouco preocupado em parecer ser. Não serve, naquela lógica do arrogante mundo adulto, pra nada, porque não tem um objetivo ($) final. São só alguns momentos divertidos, só um final de semana agradável. É só um pedacinho gostoso do caminho. Não é chegada, não é fim,