Generos e genealogia

OS GÊNEROS LITERÁRIOS E A GENEALOGIA DO PODER
Ivo Lucchesi
O presente estudo propõe uma revisão crítica acerca do que a tradição tem consagrado em relação à morfologia dos gêneros literários. Para tanto, serão alvo central de nossa investigação a epopéia e a tragédia, como discursos identificados com os elementos constitutivos das estruturas de poder, em oposição ao texto lírico que, na condição de discurso do desejo, subverte a ordem, negando-se como gênero.
1. ALGUMAS IDÉIAS NO LUGAR
Com ênfase a partir do Romantismo, a tripartição dos gêneros literários (épico, lírico e dramático) forma, com os estilos de época, o par perfeito do que pode representar a concepção imobilista da investigação literária. A ânsia por procurar-se a praticidade, em nome da eficácia crítica, tem enclausurado o ensino da literatura entre os limites do culto ao modelo, dificultando a visão do que possa existir além dele. Na origem dos tímidos passos, os recém-iniciados (ainda na escola secundária), por força de livros didáticos, programas e vestibulares consagrados e fossilizados pelo tempo e pelo hábito, são condicionados ao fascínio do esquadrinhamento modelar proporcionado pelas semelhanças e diferenças que os gêneros literários e os estilos de época apresentam. Digamos que o enfoque crítico destinado, nos Trópicos, à literatura padece de cegueira. Não a de Tirésias, mas a de Édipo. Ou seja, os profissionais de Letras, em sua maioria, por quererem ver-se, não vêem. Embora nos Trópicos se verifique certa tendência à auto-suficiência, é salutar não se perder de vista o fato de, na Europa, há mais de três décadas, haverem modificado completamente a natureza das análises, em favor de um procedimento centrado na esfera interdisciplinar. Longe de desejar alimentar a dominação eurocentrista, tal registro tem em mente apenas o intuito de trazer ao palco das discussões a necessidade inadiável de recuperar-se uma prática acadêmica, na qual a reatualização do saber seja meta prioritária, sob pena