genero e erotismo roma antiga
Gênero e erotismo na sociedade romana
Glauco Rocha Linhares
Gênero e erotismo na sociedade romana
Um dos aspectos de relevo no estudo sobre questões de gênero e erotismo na Roma antiga diz respeito à grande transformação na moral e nos costumes romanos entre os séculos I a. C. e II d. C. A moral sexual romana não é uma moral no sentido moderno da palavra, mas uma questão de statu, não de virtude, de gestos exteriores, não de repugnâncias interiores. Após esta metamorfose a moral pagã se aproxima da nascente moral cristã do matrimônio.
A germe desta mutação está na transição de uma aristocracia concorrencial, cujas rivalidades são violentas, a uma aristocracia de serviço, no qual a tônica é a relação e boa vizinhança com seus iguais. Esta mudança no comportamento a aristocracia suavizou a ousadia e a autoridade dos romanos e tornou-os mais brandos. Portanto, pode-se inferir que esta nova moral surgiu para transformar a tradicional força bruta, até então o expediente disciplinador da sociedade. Esta nova moral proporcionou às mulheres um tratamento mais respeitoso, ainda que, para que ela mantivesse a obediência ao marido, tenha sido criado o mito do amor conjugal. Esta seria a chamada moral cristã do matrimônio.
Porém é de se observar que essas transformações relativas à sexualidade e a conjugalidade – mudança da bissexualidade dirigida ao prazer em heterossexualidade voltada para a reprodução e expansão do matrimônio para toda sociedade – são anteriores ao surgimento do cristianismo, quebrando assim uma crença que dominou por grande tempo a história, de que teria sido o cristianismo o ator principal responsável pelas mudanças ocorridas na sociedade romana entre a época de Cícero e o século dos Antoninos.
A partir dessas modificações, Roma dividiu-se entre duas morais: a pagã e aquela que gradualmente se assentava e que acabaria por ser responsável pela propagação do cristianismo. Ao longo do século II, essa nova moral