Garapa
Tecer reflexões sobre as contribuições da sociologia sobre a temática da fome retratada no documentário.
José Padilha é um cineasta e documentarista brasileiro, com formação em Administração de Empresas, porém neste documentário fica evidenciado a riqueza e boa visão sociológica deste autor. Garapa é um documentário do ano de 2009 em plena campanha do governo federal de combate a fome e pobreza. Mesmo com toda a ação e mobilização social, fica evidenciado que esses problemas estão longe de serem resolvidos. O documentário rodado em preto e branco disfarça e ameniza a dura realidade vivida por cerca de 10 milhões de brasileiros, privados de alimentos, água, saneamento básico. A crítica social relata o cotidiano de três famílias no estado do Ceará vivendo em estado de insegurança alimentar grave, mesmo com o amparo da bolsa social e familiar do governo federal, ficando evidenciado o quanto as políticas públicas são fracas, desatentas, desumanas e distante desses milhões de brasileiros e famílias que passam essas privações. Garapa do ponto de vista das próprias pessoas que convivem com essa dura realidade.
Entres moscas, piolhos, falta de água, fome, falta de saneamento básico, a Garapa (açúcar com água suja) é a forma como o povo esquecido tem para amenizar a fome. Em um prato raso os míseros grãos de arroz e feijão é a realidade dolorosa de pequenos cidadãos e milhões de brasileiros. O relato mostra a luta diária de três mulheres para prover a refeição seguinte dos filhos desnutridos, e entre a vida e a morte, entre a vida e a fome, no fio da navalha a esperança depositada por mamadeiras com açúcar e água suja, em substituição ao leite inexistente.
Ao redor de tanta sujeira e desesperança, eles isolados, pelo abandono e descaso das autoridades, numa dura rotina que não existe mais relato televisivo para não chocar e ao mesmo tempo excluindo eles do contexto social. Vivem suas vidas distantes da esperança, seus objetivos: a sobrevivência. Garapa