garapa
O filme nos toca pelo que tem de doloroso e exasperante. Não se trata apenas de registrar essa condição penosa de existência, mas vê-la no cotidiano, repetida e reiterada até a exaustão. É um filme que procede primeiro pelo choque e, em seguida, pela saturação. Vemos então a saga (porque de saga se trata) dessas três famílias cearenses em busca de alimento. No dia a dia, a cada vez que o sol se levanta, o desafio delas e, em especial das mulheres, é encontrar alguma coisa para nutrir os seus ao longo daquela jornada. Até que o sol se ponha e, no dia seguinte, tudo recomece. Se alguém pensou no Mito de Sísifo, sobre o eterno recomeço, acertou. É assim que vive boa parte da população brasileira. Da mão para a boca, como se diz no interior. Mesmo que, como algumas delas, sobrevivam pelo apoio da Bolsa-Família. Cujo dinheiro dá para parte do mês e depois se acaba. O resto do tempo, as crianças voltam a comer açúcar.
No plano formal, Padilha optou pelo despojamento mais radical. Preto e branco, como já se disse, com muitas sequências granuladas. Como se, ao filmar o pobre, tivesse optado por uma "estética" igualmente pobre. Tudo falta. Não há música, a câmera não executa grandes movimentos, pelo contrário, prefere os planos fixos. Quando a cena é desagradável, ela não se afasta ou recua. Por exemplo, vemos com muitos detalhes um bebê coberto de feridas, coçando-se compulsivamente, uma cena que produz mal-estar. O