Garapa
Com uma fotografia em preto e branco que remete aos documentários mais radicais dos anos 1960 e 70, e falas gritadas, emburradas, desesperadas, mas também esperançosas e bem humoradas em alguns momentos, "Garapa" é um filme bem mais violento que "Tropa de Elite" (1 ou 2, tanto faz). Violento porque a miséria filmada por Padilha agride, porque sua câmera procurar sempre o pior lado, a mais grotesca face do descaso político e social deste país.
É sempre perigoso quando um cineasta veste a roupa de sociólogo para espiar sua culpa burguesa mostrando-nos as condições de vida dos miseráveis. Padilha não está livre desse tipo de crítica. Também porque, paradoxalmente, sabia que teria a adesão de uma outra parte da crítica, justamente aquela para a qual falar de fome e pobreza é obrigação de qualquer cineasta do terceiro mundo. Por esse viés, seu filme finca um pé muito forte no oportunismo, algo muito comum em documentaristas.
Um outro risco é a associação com a oposição política. Tal oposição, em 2009, ano em que o filme foi lançado nos cinemas, era praticamente nula. Talvez exatamente por isso ansiasse por alguma voz vinda da arte, para legitimá-la. "Garapa" serviria perfeitamente a esse propósito, pois mostra, inclusive nos letreiros finais, que o programa de bolsa família não é o suficiente, não chega nem perto disso.
Mas nem essa apropriação básica a oposição ao governo Lula soube fazer. Melhor assim. O documentário de Padilha é forte o suficiente para se sustentar sem a necessidade de servir à política, qualquer que seja o lado envolvido.
Poderia servir, num mundo perfeito, para que o espectador se