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As famílias de Fortaleza e do interior do Ceará, nos arredores de Choró, cujas rotinas Padilha documenta em seu filme, se encaixam no segundo caso. Muitas vezes, sua dieta se restringe à bebida do título, o melado fervido, já que um saco de açúcar é o que compensa comprar, segundo um entrevistado, depois de um dia de trabalho rural ocasional na região.
Sem rodeio, a câmera operada por Marcela Bourseau nos apresenta a esse drama a partir do ponto mais crítico: os os corpos das crianças. Nus, magros mas barrigudos, andam de um lado para o outro e rolam no chão enquanto a equipe os filma, às vezes, dos pés à cabeça em um plano só, como se os medisse. Os pais visivelmente tentam ordenar a casa para "receber a visita" (e sentam os filhos no chão sobre camisetas para almoçar), mas não demora a vermos que a insalubridade é um dos fatores da miséria por ali.
Fatores não faltam, ademais. O alcoolismo, o descontrole de natalidade e o desemprego vão se amontoando entre dilemas que Padilha levanta seja pela imagem (ao contrapor dois homens de famílias diferentes em situação similar, um sóbrio e outro bêbado, por exemplo), seja pela palavra mesmo, questionando as mães sobre planos de maternidade. É problema demais para um filme só, e isso cria uma sensação de fatalismo cada vez maior, mas para