Fábula
A palavra ‘fábula’, vem do latim fabula,ae, com as seguintes acepções: conversação; objeto ou assunto de conversação; narração; narração dialogada e posta em cena; peça teatral; narração mentirosa ou fictícia; fábula, apólogo; historieta. Conto; história; mentira; sombra; ser sem realidade; palavra vã; poema. A ela se correlacionam fabularis,e: fabuloso; falso; mitológico. Fabulatio,onis: conversação; discurso. Fabulator, oris: narrador, fabulista. Fabulalo, atus sum: falar; conversar com; narrar; inventar; contar; mentir. Fabulositas,Átis; fábula; narração fabulosa; loquacidade.
Observamos dentro dessas várias acepções uma intensa polissemia que cerca a palavra fábula e seus usos, atos e concepções. Uma delas remete à mitologia, porque na origem grega, fábula e mito não se diferenciavam. E todas conduzem para a questão do contar. Muthos é uma palavra platônica. Para o filósofo significa ao mesmo tempo “palavra, discurso, relato, rumor, mensagem conselho, resolução, fábula”. E pelas acepções dadas à palavra, veremos que “relato e história” equivalem a níveis narrativos, como se apresentam na linguagem fabular e através da linguagem. São relacionais, nesse sentido. E se articulam à potência narrativa mediante a qual o ser humano narra relacionando o “mundo representado”, a si mesmo, inscrevendo-se também. Mas, isso não consiste numa forma simples, linear, de contar relacionando-se, antes, isso se processa por recobrimentos: um relato vai recobrindo outro e outro, de maneira que o tecido fabular torna-se um tecido de velamento, capaz de deixar na sombra outras intrigas, outras histórias. Tal recobrimento incidirá sobre a conclusão ou moral da história que vai se rarificando ou mesmo sendo destruída como acontece no que chamamos de fábula moderna, a qual desvela potências de linguagem que se manifestam em outros territórios fabulares, até então insuspeitados (cf. O