Funcionamentos escolares e produção de fracasso escolar e sofrimento
Beatriz de Paula Souza1
O estudo dos funcionamentos escolares e sua relação com o fracasso escolar e o sofrimento das crianças/jovens que chegam aos psicólogos com queixas escolares tem sido fundamental para os atendimentos que temos desenvolvido, em Orientação à Queixa Escolar. Pensar o ambiente escolar é coerente com a concepção de que o Sujeito se estrutura na relação com o Outro, de que somos partidários. Em se tratando de nossos usuários, entendemos que a idéia de Outro inclui os ambientes escolares em que estiveram e estão imersos. As informações e reflexões sobre tal relação oferecem-nos elementos para investigarmos, compreendermos e atuarmos junto aos envolvidos na produção e manutenção das queixas escolares (crianças/adolescentes, suas famílias e escolas), individualmente e em suas inter-relações. Debruçarmo-nos sobre tais funcionamentos, no entanto, traz o perigo de acirrar algo que tem atravessado a relação entre muitos psicólogos e as escolas com as quais procuram (ou procuraram e depois desistiram) entrar em contato direto. Trata-se do preconceito contra os professores das escolas públicas. Estes profissionais vêm sendo depositários das mazelas do ensino, vistos como incompetentes, mal-formados, egoístas e sem compromisso com seus alunos. Atingidos por esta visão dos professores, que vem se disseminando, sustentada por uma análise superficial das dificuldades do sistema escolar e pela crença na superioridade do saber psicológico em relação aos mesmos, muitas vezes os psicólogos propõem aos professores uma relação vertical, que é recusada por eles. Esta reação dos docentes é entendida como resistência. E assim, muitas experiências de interlocução com a escola no
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Psicóloga do Serviço de Psicologia Escolar da Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia Escolar e coordenadora do curso de Aperfeiçoamento “Orientação à Queixa Escolar”. E-mail: biapsico@uol.com.br
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