“FRONTEIRA”: ESPAÇO LIMÍTROFE ENTRE A INFÂNCIA E A ADOLESCÊNCIA
ANDRÉ PEREZ DA SILVA*
RESUMO
Este artigo objetiva mostrar a forma pela qual o sujeito constitui e se constitui por meio da linguagem, fato corroborado pela pragmática e ilustrado efetivamente por meio de “Fronteira”, conto de José J. Veiga. Neste conto, exemplar para analisarmos o rito de iniciação, percebe-se como o indivíduo revisita a sua infância e se revela ao leitor e a si mesmo por meio de imagens que nos levam ao encontro do outro.
PALAVRAS-CHAVE: alteridade, infância, leitor e leitura, linguagem, rito de iniciação.
“Fronteira”: the boundary between childhood and adolescence
ABSTRACT
This article aims at showing the way through which the subject constitutes and is constituted by language. This fact is confirmed by pragmatics and effectively illustrated by the short story “Fronteira”, written by José J. Veiga. In this narrative, exemplary to analyse the rite of initiation, it is possible to perceive how the individual revisits his own childhood and reveals himself to the reader and to himself through images which take us to the meeting with the other.
KEY WORDS: alterity, childhood, reader and reading, language, rite of initiation.
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a quando vim ser quem sou,
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
(Fernando Pessoa)
O livro do “Gênesis” nos revela algo único e intrínseco à linguagem: ao dizer faça-se a luz, esta simultaneamente se faz, pois falar é agir, é constituir a si mesmo e ao “outro”, por meio da palavra. Searle (1969), um dos grandes nomes da pragmática, ao nos descrever a importância dos atos de fala, reafirma o conteúdo subjacente ao livro do “Gênesis” ao
* Mestrando em Letras e Lingüística pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: perez@cefetgo.br 16
Revista Solta a Voz, v. 17, n. 1
expor que o que o indivíduo faz ao usar a língua não se limita a transmitir
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