Fragmento de Cecília
Cabecinha boa de menino triste, de menino triste que sofre sozinho, que sozinho sofre, - e resiste.
Cabecinha boa de menino ausente, que de sofrer tanto, se fez pensativo, e não sabe mais o que sente...
Cabecinha boa de menino mudo, que não teve nada, que não pediu nada, pelo medo de perder tudo.
Cabecinha boa de menino santo, que do alto se inclina sobre a água do mundo para mirar seu desencanto
Para ver passar numa onda lenta e fria a estrela perdida da felicidade que soube que não possuiria.
No primeiro verso da primeira estrofe, o “eu” lírico inicia a descrição de um menino de maneira afetiva,quando coloca o substantivo “cabeça” no diminutivo “cabecinha”, reforçado, logo em seguida, pelo adjetivo “boa”. A palavra “cabecinha” é uma metáfora para a personalidade, ou seja, um menino de boas atitudes. Apesar disso, o menino é um ser triste.
A característica do sofrimento é retomada no segundo verso da segunda estrofe e, por isso, fez com que o menino se tornasse um ser reflexivo sobre a sua vida, a sua existência.
Podemos pensar que o menino do poema é uma metáfora da própria vida de Cecília quando criança.
O “eu” lírico/narrador completa, no segundo verso, a carência emotiva e material do menino, acentuado pelo uso das palavras “não” e “nada”, mostrando que ele tinha receio de perder as poucas coisas boas que a vida lhe deu (último verso da terceira estrofe).
Nesta estrofe aparecem as antíteses entre as palavras “ter” x “perder”; “tudo” x “nada”, retratando a oscilação que ocorre em nossa vida,mais voltada para o lado material, enquanto o espiritual é deixado de lado. Mas, na verdade, tudo é passageiro e efêmero e deixamos de aproveitar os verdadeiros sentimentos.
tema do poema é a infelicidade da vida, a sua transitoriedade, anunciada a todo instante pela morte, encarada como fato natural e verdadeiro. O poema é construído com cinco estrofes, cada uma com três versos, podendo sugerir as cinco