Foucault
Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(1-2): 83-103, Rev. Sociol. 1995.
FOUCA
outubro de 1995.
UM PENSAMENTO
DESCONCERTANTE
Sobre a analítica do poder de Foucault
ANTÔNIO C. MAIA
“L’ouvre de Foucault se ré-encheine avec les grandes ouvres qui ont changé por nous ces que signifie penser”
(Deleuze, 1986, p. 128)
RESUMO: Compreender a forma pela qual se estruturam as relações sociais, em especial as relações desiguais de obediência e dominação que justificam a autoridade e a natureza das obrigações políticas, tem sido uma tarefa constante do pensamento humano. Neste texto sustentamos que Michel Foucault deu uma contribuição inegável a uma compreensão melhor desta ordem de fenômenos. Na primeira parte examinamos algumas das características do seu conceito de poder. Na segunda, privilegiamos um outro eixo de análise, acompanhando as transformações que este conceito sofreu ao longo dos anos 70 em sua obra.
UNITERMOS:
Foucault,
conceito de poder, bio-poder, governamentalidade.
Introdução
P
oucos autores do cenário contemporâneo trilharam tantas áreas do saber como Foucault: da epistemologia das ciências humanas à ética, da literatura à sexualidade, da loucura à punição. Mas, o estudo do poder foi o causador da maior repercussão. As suas investigações, ao longo dos anos 70, em torno da problemática do poder, com suas características, táticas e estratégias o projetaram como o filósofo francês - ao lado de Jacques Derrida - de maior presença no cenário cultural alemão e anglo-saxão. Entretanto, esta parte de seu trabalho não foi objeto de uma or-
Professor da Faculdade de Direito da UERJ e do
Departamento de Direito e do curso de especialização em Filosofia da PUC-RJ
83
MAIA, Antônio C. Sobre a analítica do poder de Foucault. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(1-2): 83-103, outubro de 1995.