Fonoaudiologia
Clínica, Linguagem e Subjetividade
Christian Ingo Lenz Dunker
1. Os Elementos da Clínica Clássica
O surgimento da clínica moderna, no final do século XVIII, correspondeu a uma composição de práticas, discursos e dispositivos bastante heterogêneos. Ela não se formou em torno de um objeto comum, o corpo e suas afecções, mas em resposta à demandas cuja raíz de legitimação social derivava do sistema jurídico, moral e religioso por um lado e dos saberes empíricos, institucionais e teóricos da medicina por outro.
Admitindo-se a tese de Foucault 1 , a invenção da clínica se prende à invenção de um olhar. Um olhar purificado, regulado e administrado por uma série de operações das quais este seria apenas um reflexo, um espelho. Clinicar é dobrar-se, inclinar-se diante do leito do paciente e interpretar os sinais significativos de seu corpo. Em outras palavras, aplicar sobre este corpo um determinado olhar e derivar deste olhar um conjunto de operações. Tais operações dividem-se, basicamente, em procedimentos classificatórios e procedimentos ordenadores. Classificar significa aqui reconduzir as semelhanças que se repetem de modo a inclui-las em um conjunto ou classe. Ordenar, por sua vez remete a descoberta das regras que presidem a articulação entre os diferentes tipos de sinais.
Podemos comparar o funcionamento articulado destas operações com a construção e apropriação de uma espécie de linguagem. De um lado isolamos uma semântica, contendo o significado dos signos, traços, sintomas e quadros, segundo uma certa proximidade genealógica. Simultaneamente é preciso estabelecer uma gramática, contendo as regras de composição e transformação das figuras patológicas, segundo uma ordem que permite
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O Nascimento da Clínica, 1987, p. 121.
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DUNKER, C. I. L. - Clínica, Linguagem e Subjetividade. Distúrbios da Comunicação. v.12, p.39 61,