Filosofia
Segundo Górgias (1980), a palavra é um poderoso soberano, que, com um pequeníssimo e muito invisível corpo, realiza empreendimentos absolutamente divinos. Com efeito, pode eliminar o temor, suprimir a tristeza, infundir alegria, aumentar a compaixão. Demonstra que isto é assim, pois é necessário pôr isso de manifesto, perante a opinião dos que o escutam. Considera e define toda poesia como palavra com metro. Esta infunde nos ouvintes um estremecimento repleto de temor, uma compaixão repleta de lágrimas e uma saudade próxima da dor, de forma que a alma experimenta, mediante a palavra, uma paixão própria, motivada pela felicidade e a adversidade de assuntos e de pessoas estranhas.
As sugestões inspiradas mediante a palavra produzem prazer e afastam a dor. A força da sugestão, apropriando-se da opinião da alma, domina-a, convence-a e transforma-a como que por uma fascinação. Duas artes de fascinação e de encantamento foram criadas, as quais servem de extravio à alma e de engano à opinião. O poder do discurso afeta diretamente a alma, Assim como certos medicamentos expulsam do corpo certos humores e outros, outros distintos humores e uns eliminam a doença e outros, a vida, assim também algumas palavras produzem tristeza, outras, prazer, outras, temor, outras infundem nos ouvintes coragem, outras, mediante uma maligna persuasão, envenenam e enganam a alma.
2. Por que a persuasão é um instrumento de poder?
Segundo Górgias (1980), a palavra que persuade a alma obriga necessariamente essa alma, que persuadiu, a obedecer às suas ordens e aprovar seus atos. Portanto, o que infunde uma persuasão, uma vez que priva alguém da liberdade, opera injustamente, mas quem é persuadida, uma vez que é privada de sua liberdade pela palavra, só por erro pode ser censurada.
Desde que a persuasão produzida pela palavra modela a alma como quer, há que se fixar, em primeiro lugar, nas teorias dos