filosofia
E A QUESTÃO DA MORTE*
Adão José Peixoto**
Resumo: esse artigo apresenta uma reflexão sobre a morte e suas dimensões pedagógicas e políticas em Sócrates. Esse filósofo foi considerado, em sua época, o mais sábio dos sábios. Mesmo assim, foi condenado à morte devido às posições críticas que assumia com relação aos costumes, às tradições, às práticas políticas e aos esforços para ajudar as pessoas a romperem com o mundo da doxa, do senso comum, e se ascenderem ao mundo da epistemé, do conhecimento, também no que se refere a morte.
Palavras-chave: Filosofia. Morte. Política. Pedagogia.
Morrer é que me assusta.
(Montaigne)
A
epígrafe acima expressa bem a nossa angústia sobre a morte. Sentimos um profundo desconforto quando nos deparamos com a questão da morte. Ela é fonte de medo, angústias, desesperos, dramas, revoltas e interrogações. Quando nos deparamos com a perda de alguém da nossa família ou de algum amigo, somos tomados pela angústia, pela interrogação e, até mesmo, pela revolta. A morte é o acontecimento humano mais temido e menos discutido. Esse temor se deve ao fato de que ela é um destino inevitável para todos nós e imprevisível, no que diz respeito à temporalidade.
O homem é, entre todos os seres, o único que tem consciência da morte.
Essa consciência surgiu quando ele se deparou, ao longo da história, com o problema da finitude e da infinitude; daquilo que é passageiro e daquilo
Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 20, n. 9/10, p. 663-682, set./out. 2010.
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que é eterno, do que é mortal e do que é imortal: quando se descobriu como ser finito, ou como afirma Heidegger, quando passou a compreender que é um ser-para-a-morte (HEIDEGGER, 2007, p. 309-15).
Parece-me que o susto expresso na epígrafe de Montaigne, a angústia que toma conta de nós quando nos deparamos com a problemática da morte, não aparece na atitude de Sócrates. Creio que, na história da filosofia, nenhum pensador se deparou com a