Filosofia
RORTY E A REDESCRIÇÃO – GILDEON CALDER
"No livro intitulado Rorty e a redescrição, Gildeon Calder revela, no avançar da leitura, um Rorty pragmatista que abomina saídas a priorísticas e vê apenas como interpretações desprovidas de utilidade os mais caros conceitos articulados pela metafísica ao longo de sua desenvoltura histórica: verdade, universal, absoluto – um salto de qualquer forma fixa que garanta estabilidade à vertigem do vivido em seu complexo contingencial.
A busca pela natureza essente das coisas, bem como de um princípio normativo para as ações, anterior às próprias ações, compara-se, pois, ao delírio dos poetas, isto é, situam-se em locus comum àqueles, a saber: o plano interpretativo. Pensar o incondicionado é admitir um dado não relacional, bastando-se a si mesmo, o que parece ser discrepante com a própria condição humana, que a tudo estabelece em termos de relação.
Transpor a metáfora de “altitude ou profundidade”, adotando em seu lugar metáforas de “largura”, significa mesmo, adequar-se ao dito de Paul Valéry, admitindo que “o mais profundo é a pele”. Verdades alhures não alcançaremos. Teremos, na radicalização das possibilidades, apenas descrições – o que nos permite a linguagem – adotadas tendo em vista a sua utilidade.
O que temos é, portanto, uma postura antimetafísica que rejeita qualquer proposta filosófica essencialista. Nesse sentido, concebe a lei como costume e, seguindo Dewey, a moral como grau mais complexo da prudência. À luz de seu pensamento parece, destarte, tratar-se de incoerência qualquer recorrência à noção de “obrigação moral incondicional”. Pressupor tal noção é pensar que a verdade pode ser alcançada, que o agir correto pode ser detectado no momento em que agimos. Pergunta-se, porém: como saberíamos que encontramos a verdade se acaso a encontrássemos? E ainda, que aquele e não um outro modo de agir, era o correto?
A verdade intocada