filosofia
“- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro... A alma exterior pode ser um espírito, um fluído, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação”
Machado de Assis
Um grupo de senhores, por várias noites, reuniu-se para discutir sobre os assuntos de alta transcendência – coisas metafísicas. No grupo, um dos participantes se destacava pelo silêncio. Numa das noites, incitado por um dos participantes, o casmurro usou a palavra – narraria um fato de sua vida e não consentia réplica. Não se tratava de opinião ou conjectura, era apenas uma demonstração da matéria debatida.
“Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...” A afirmação causa perplexidade, mas o narrador não se intimida e reitera que existem duas almas: uma exterior, outra, interior... A alma exterior não é sempre a mesma, modifica-se com as circunstâncias. As duas juntas, metafisicamente, se completam, quem perde sua alma exterior vive incompletamente, e há caso de pessoas que perdem a existência inteira.
O homem continua relatando sua experiência de quando tinha 25 anos e fora nomeado alferes da Guarda Nacional. Tornou-se o centro de atenção de sua humilde família e passou a ser identificado como o Sr. Alferes.
Não tardou e uma tia que morava a algumas léguas, convidou-o a passar alguns dias em sua casa, com a farda naturalmente. Os dias passavam nas formalidades próprias de uma autoridade. A grande relíquia da casa, um grande espelho, fora colocado em seu quarto como sinal de admiração e orgulho.
“- O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se, mas não tardou que a primeira cedesse à outra; ficou-me uma parte íntima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do