Filosofia medieval
Maura Iglésias[2]
1. Filosofias
O uso normal e correto da língua portuguesa admite um sentido muito amplo para a palavra "filosofia". Fala-se, por exemplo, que Fulano tem uma excelente "filosofia" de trabalho; que a vovó tem uma "filosofia" de vida formidável; e até mesmo que determinado técnico de futebol vai imprimir uma nova "filosofia" ao time. Em todos esses casos, parece que "filosofia" tem a ver com uma concepção, e pois com um "saber", de como o trabalho, a vida ou o time de futebol devem ser dirigidos: há um "saber de direção" envolvido nessas filosofias. Mas fala-se também de filosofia hindu, de filosofia chinesa... E aqui parece que filosofia já tem um sentido mais técnico, de sistematização de pensamentos especulativos ou de reflexões morais produzidos pelo povo hindu ou pelo chinês. Como se não bastasse, as livrarias oferecem, sob a rubrica "filosofia", uma variedade bastante exótica, onde aparecem, entre outras produções, tratados de ioga, e disciplinas espirituais e ascéticas de monges tibetanos.
Em todos esses casos, e é o que deve unificar tantos usos diferentes da palavra, filosofia tem a ver com uma forma de saber - e que não é um saber qualquer: não é, por exemplo, um "saber que o fogo queima", ou um "saber nadar", ou um "saber plantar", ou um "saber fazer vestidos", por mais úteis e até mesmo indispensáveis que sejam todos esses tipos de saber. "Filosofia" tem, mesmo no seu sentido lato, uma ligação com um saber que se percebe como sendo mais relevante, relativo a coisas mais fundamentais, embora menos diretamente úteis, que um simples saber empírico, ou que um saber ligado a produções de coisas indispensáveis para a sobrevivência. Não é, pois, meramente arbitrário o uso da palavra "filosofia" em todos os casos citados acima.
Mas é preciso estar ciente de que a disciplina acadêmica que se intitula "filosofia" usa essa palavra num sentido estrito, que exclui de seu âmbito não só a concepção de