filosofia ao longo dos tempos
EPICURO – O profeta do prazer É UMA das ironias da sorte que o homem, que deu origem à filosofia epicurista do prazer desenfreado, não tivesse sido ele próprio um epicurista. A palavra epicurista hoje indica a excessiva indulgência no comer e no beber. E’ sinônima de intemperança. Contudo Epicuro, o fundador dessa escola filosófica, foi um dos homens mais temperantes do mundo. Longe de comer em excesso, contentava-se com uma simples refeição de bolo de cevada e água. Como aconteceu então que Epicuro aparece na história como o filósofo do prazer ? A resposta é que há duas espécies de prazer: os prazeres do estômago e os mais tranquilos prazeres do pensamento. Epicuro advogou essa segunda espécie de prazer.
Epicuro era na realidade um pessimista. Mas um pessimista sorridente. A vida, dizia ele, é quando muito uma tragédia. Não somos os filhos de Deus, asseverava ele, mas os enteados da Natureza. Nascemos, vivemos e morremos por acaso. E depois da morte não há outra vida. Epicuro não acreditava na imortalidade. Mantinha contudo que era um dever do homem tornar a sua vida presente a melhor possível. E a melhor espécie de vida, dizia ele, era uma vida de prazer — não de prazer turbulento, mas de prazer refinado. Cultivai a felicidade da vida simples. Aprendei a gozar do pouco que tendes, e evitai os ex-citamentos de ambicionar mais. Sede contentes. Cultivai um tranquilo senso do humor. Adiantai-vos, por assim dizer, pelas linhas laterais do desordenado jogo da vida. Aprendei a sorrir diante das loucas ambições de vossos amigos. Mas aprendei também a auxiliá-los nas suas necessidades. Desenvolvei o talento de adquirir amigos. Não podeis ser mais felizes do que quando partilhais vossa felicidade com vossos amigos. De todos os prazeres do mundo, o maior e o mais duradouro é a amizade. Epicuro mostrou-se um amigo tão devotado porque era um egoísta. E nisso, como vereis, não há paradoxo. Epicuro pregou a doutrina do egoísmo.