“Já percebeu o movimento rápido dos olhos ao notarem a presença da luz? Como as mãos ficam frias e o corpo parece que vai se rasgar de dentro pra fora, quando não há mais saídas, não há rastros nem vestígios para o recomeço? E na avenida os faróis te alcançam em cheio e os seus tímpanos estremecem, tua alma escapole do corpo ferido fugindo desesperadamente da dor? Você corre, corre muito e não há mais esperança e vai, vai embora, sem nem mesmo olhar pra trás. São nossos mecanismos de defesa frente ao mal súbito, a covardia e ao fracasso inevitável da partida. É verdade, confiança demais só gera decepção. Pior é quando demonstramos nossas fraquezas, pois as pessoas sempre vão usá-las contra nós, e da pior forma possível. O amor caminha lado a lado com o ódio e quando este segundo é ativado, o primeiro some, a alma desaparece. O egoísmo do ser humano não tem fim. Ninguém se preocupa com o que você vai sentir ou como vai reagir diante de atitudes insensatas. Pode ser um pedestre distraído, pode ser um cachorro perdido, pode ser um cara chapado saindo da rave às 7 da manhã, pode ser a ilusão batendo na sua porta, a covardia, o abandono, pode ser o oficial de justiça que lhe entrega uma intimação, deve ser a respeito da batida, depois fiquei sabendo que o rapaz morreu. Mas, ninguém liga pro quanto você vai se machucar. Palavras podem até te ferir mas isso só dura enquanto você der ouvido a elas. O que realmente fere é a indiferença. Ser ignorado provoca a mesma reação química no cérebro que o experimento da dor física, um atropelamento, uma infecção que se aloja no peito e queima, uma dor que nunca vem sozinha, é acompanhada pelas lembranças ainda tão sólidas na mente. Confusão, insegurança e um turbilhão de sentimentos mórbidos te invadem e você não sabe o que fazer. O corpo estraçalhado, os ossos quebrados, sem conexão, o coração imediatamente se transforma em um grande espaço vazio, um buraco maior que ele mesmo, seu próprio caixão. O único jeito de se livrar dele,