Ficção e história
Este trabalho pretende fazer uma reflexão acerca da ficção e da história a partir do conto O dia em que o Brasil perdeu a Copa (1975) de Paulo Perdigão publicado em sua obra Anatomia de uma derrota (1986). Nessa análise tentaremos mostrar de que maneira a história entra na ficção e o que a ficção diz sobre a história, visto que o conto é uma invenção ficcional, porém apresenta registros factuais. O curta-metragem Barbosa (1988) dirigido por Jorge Furtado e Anna Luiza Azevedo que foi baseado nesse conto de Paulo Perdigão deixa clara a relação existente entre a realidade e o mundo imaginário e entre o sujeito e sua memória, pois além de possuir cenas ficcionais, a narrativa fílmica se constitui de cenas montadas de um arquivo e depoimentos do goleiro Barbosa. O dia em que o Brasil perdeu a Copa é um conto que traz à tona a questão da memória de um homem que, quando criança, presenciou a derrota da Seleção Brasileira para o Uruguai na Copa de 1950. Da arquibancada, junto ao pai, o garoto assiste ao gol de Ghiggia que culminou na perda do título e no trauma que o acompanhou até a fase adulta. Tal situação o incomodava tanto que ele queria poder voltar no tempo para mudar o rumo da história – queria avisar ao goleiro Barbosa que o Ghiggia faria o gol. O narrador-testemunha encontra, numa loja de relíquias, uma máquina que lhe permite voltar no tempo e corrigir esse passado traumático. No entanto, suas investidas foram frustradas, pois mesmo tendo planejado cuidadosamente todos os passos, levando até provas de sua posteridade, o protagonista invade o gramado e ao gritar o nome do goleiro Barbosa acaba por distraí-lo, atrapalhando a defesa do chute de Ghiggia que resultou em gol do Uruguai. Todo o esforço em reconstruir o 16 de Julho de 1950, trouxe mais sofrimento, angústia e um sentimento de culpa, pois se sentiu responsável pelo gol sofrido.
A tentativa de reconstrução da história apresenta-se como uma