Fichamento do livro vigiar e punir
1111 palavras
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O soldado é antes de tudo alguém que se reconhece de longe. Seu corpo é o brasão de sua força e valentia. Na segunda metade do século XVIII o soldado tornou-se algo que se fabrica, de um corpo inapto fez-se uma máquina. Durante a época clássica uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam. O livro “O Homem-máquina” de La Mettrie é ao mesmo tempo uma redução materialista da alma e uma teoria geral do adestramento, no centro dos quais reina a noção de docilidade que une ao corpo analisável o corpo manipulável. É dócil o corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. A escala em primeiro lugar do controle, não se trata de cuidar do corpo a grosso modo, mas de trabalhá-lo detalhadamente de exercer sobre ele uma coerção sem folga,gestos, atitudes, rapidez. Um poder infinito sobre o corpo ativo. O objeto em seguida do controle: a economia, a eficácia dos movimentos. Esses métodos que permitem o controle minucioso do corpo são o que podemos chamar de “disciplina”. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. Técnicas sempre minuciosas, muitas vezes íntimas, mas que tem sua importância, porque definem um certo modo de investimento político e detalhado do corpo. A disciplina é uma anatomia política do detalhe. Detalhe era uma categoria da Teologia e do ascetismo: todo detalhe é importante, pois aos olhos de Deus nenhuma imensidão é maior que um detalhe. Ao mesmo tempo um enfoque político dessas pequenas coisas (detalhe) para controle e utilização dos homens, sobem da era clássica, levando consigo todo um conjunto de técnicas, todo um corpo de processos e de saber, de descrições de receitas e dados. E desses esmiuçamentos, sem dúvida, nasceu o homem do humanismo moderno.