Ficha de leitura: o fluxo sanguíneo da ciência
“O fluxo sanguíneo da ciência – Um exemplo da inteligência científica de Joliot”, capítulo 3, presente na coletânea A esperança de Pandora, Bruno Latour condensa diversas de suas contribuições em um modelo: o de Sistema Circulatório. O autor faz uma comparação ao trabalho científico e este sistema, alegando que não importa apenas o “coração” da ciência e sim, todo o seu conjunto o seu vasto sistema de redes e capilaridades. Aqui vale o registro de que para Latour a ciência não cresce na medida em que representa ou copia o real, num salto do sujeito às “coisas em si”, mas num processo de maior articulação dos entes envolvidos no processo de conhecimento. Da mesma maneira que em nosso sistema circulatório não faz sentido nos perguntarmos se em essência ele é coração ou veias e artérias, nas ciências não devemos nos bastar apenas na sua rede conceitual ou no contexto social. Esta antiga querela, sustentada pelos historiadores da ciência no debate entre internalismo X externalismo vai acabar concebendo o conhecimento científico, ora como produzido a par de sua rede coletiva, como idéias flutuando no céu (internalismo); ora como um mero fenômeno social, sem entender a especificidade das ciências (externalismo).
Tentando superar este muro entre os internalistas e externalistas (e entre ciência e sociedade) é que Latour irá propor o seu Sistema Circulatório, composto por uma série de circuitos, como:
1) Mobilização do mundo, ou conjunto de mediações aptas a fazer circular os entes humanos e não-humanos através do discurso (instrumentos, levantamentos, questionários e expedições);
2) Autonomização, ou a delimitação de um campo de especialistas em torno de uma disciplina, capazes de serem convencidos ou entrarem em controvérsia;
3) Alianças, ou recrutamento do interesse de grupos não científicos, como militares, governamentais e industriais;
4) Representação Pública, ou o conjunto de efeitos produzidos em torno do