Fernão Capelo Gaivota
Vezes sem conta vezes se desequilibrou, caindo violentamente na água.
Depois de uma queda que quase lhe custou a vida, ia desistir, mas, repentinamente, descobriu um modo de controlar sua velocidade. Levantou vôo, e sem pensar em morte ou fracasso, conseguiu atingir a marca estonteante de trezentos e vinte quilômetros por hora, inimaginável para qualquer outra gaivota viva. Sua alegria foi enorme. Radiante, pensou: ?As gaivotas podem ser livres, podem procurar seus peixes no mar, em vez de ficarem ao redor dos barcos de pesca, guerreando por migalhas.? Quando Fernão Gaivota voltou para seu bando, exausto e feliz, depois de longas horas de treinamento, ansioso por lhes comunicar a grande descoberta, encontrou as gaivotas reunidas em círculo, à sua espera. A gaivota Mais Velha chamou-o ao centro e, para seu completo horror, o acusou de irresponsável e subversivo. Lavrou a sentença: por violar as tradições e a dignidade de sua espécie, foi banido do grupo para sempre.
Exilado, passou a viver sozinho. Sua única tristeza era não poder compartilhar os conhecimentos que, com intenso treinamento, iam aumentando a cada dia.
Muitos anos depois, já bem velho, no meio de um vôo, encontrou duas gaivotas, inacreditavelmente brancas e brilhantes que o conduziram através da neblina. Disseram-lhe: ?Está na hora de voltar para casa? e ele compreendeu que acabava de entrar em outra dimensão e em outra etapa de aprendizado.
Nesse lugar, havia um bando pequeno de gaivotas que voavam divinamente e cujo objetivo era encontrar novas técnicas, melhorando sempre a qualidade de