Fernando Pessoa
(ortónimo)
Duas vertentes: a tradicional e a modernista
Em Fernando Pessoa ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Nos primeiros tempos escreveu na língua em que foi educado, ou seja, em inglês. Depois, por influência da poesia de Garrett, começou a escreveu em português e algumas das suas composições apresentam a melancolia, a sensibilidade, a suavidade, a linguagem simples e o ritmo da lírica tradicional. Nota-se em vários poemas não só esta continuidade do lirismo português, mas também o sebastianismo e o saudosismo que vem já dos tempos em que escrevia para a revista A Águia e que utilizará na Mensagem, publicada em 1934. Na poesia de Fernando Pessoa ortónimo, desde que colaborou no Orpheu, há uma ruptura que se caracteriza pelas suas experiências modernistas que vão desde o simbolismo ao paulismo e ao interseccionismo.
Leve, breve, suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia o dia.
Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.
Nunca, nunca, em nada,
Raie a madrugada,
Ou splenda o dia, ou doire no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.
Fernando Pessoa, Cancioneiro
05/08/1921 (Athena, nº 3, Dezembro de 1924)
Texto para reflexão
No Pessoa ortónimo o ritmo alicia, as próprias vivências são muitas vezes de essência musical; instintiva ou calculadamente, de qualquer modo apoiado à nossa melhor tradição lírica, Pessoa tira das combinações de sons efeitos muito felizes.
[…]
O processo é característico de Pessoa: primeiro a imagem-símbolo, depois a reflexão que lhe extrai o sentido. O verso inicial, só constituído por adjectivos (sugestivo de um som esguio e doce pelas duas pausas entre os três dissílabos, rigorosamente monossílabos, terminados em fricativa, e ainda pela rima interior), contém o que mais importa: a ideia da leveza, da brevidade, da suavidade do momento psicológico simbolizado pelo