Fernando Pessoa
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
Para vermos as árvores, o rio, as coisas do mundo, não nos é suficiente olhar apenas para elas. Mas qual será esse pormenor que nos falta? Então o poeta esclarece-nos nos versos seguintes:
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Como podemos perceber por estes versos para o poeta as coisas não são ideias, as coisas são apenas coisas, nada mais. Uma demonstração filosófica da realidade, por meio de ideias, é sempre insuficiente para mostrar a realidade.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora
Com a vida baseada em pressupostos filosóficos, não naturais, cada um de nós é, para o poeta, como uma cave, um lugar escuro, um lugar isolado. Não conseguimos usufruir da convivência básica e universal de apenas se estar na natureza.
Este poema é também uma crítica à maneira como a população ocidental encara o mundo, sempre à procura de uma explicação racional, sempre à procura de teorias gerais para explicar tudo.
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela
Os versos finais, são quase uma repetição dos versos cinco e seis, que se referem de novo à ideia principal do poema, à forma como o Homem anda a desperdiçar a sua vida quando procura um sentido racional para tudo.