feminidade
A partir da leitura dos textos, experiência clínica e o que é apresentado na literatura e arte cinematográfica, comecei a observar diferentes posições assumidas pelas mulheres diante do amor. Algumas se mantêm na insatisfação, não conseguindo se entregar; outras, se entregam a ponto de se perderem, terminando devastadas, como acontece com Adele Hugo (filha de Victor Hugo) que teve a vida contada num filme que leva seu nome.
Na tentativa de compreender o que acontece seria necessário conhecer o percurso de desenvolvimento da sexualidade feminina. A mãe é o primeiro objeto de amor da menina. É um amor absoluto, completo, até que um terceiro entra em cena (o pai) e a criança perde seus privilégios (FREUD, 1933). Kehl (1988) diz que a criança entende que o pai é o falo da mãe quando esta dirigi-lhe o olhar de desejo. Este seria o momento em que o pênis se instauraria como falo universal do imaginário infantil. Instala, nesse momento, o complexo de castração na menina.
A menina, desapontada com a mãe depois de se deparar com a castração, teria, de acordo com Freud (1931), três saídas possíveis: a primeira seria o abandono da sexualidade e o reconhecimento da superioridade do homem, e de sua própria inferioridade; a segunda seria a homossexualidade; e a terceira seria a atitude feminina ‘normal’, na qual ela toma o pai como objeto e adentra o complexo de Édipo, e afastando-se da mãe.
Considerando a terceira opção como a saída encontrada, Kehl (1988) explica que, depois da desilusão amorosa sofrida pela menina (com a mãe), e do abalo narcisista com a descoberta da ausência do falo, a menina já mulher desenvolve artifícios, faz uso de semblantes (enfeites, jóias, roupas etc) para encobrir a castração. A mulher valoriza o próprio corpo para atrair o desejo do homem, mas ao mesmo tempo tenta desvalorizar o falo, negando poder ao pênis, reprimindo seu desejo, negando qualquer necessidade de contato. Ela busca o amor, mas ama sem desejar.