Exercícios Crise entre Ser e Palavra

A tese do “milagre grego” consiste em afirmar que o início do lógos deu-se de maneira imediata, rejeitando o mythos. Esta tese afirma que aqueles que utilizaram do lógos o fizeram como que “da noite pro dia”. Com este surgimento radical, defendido por essa tese, pode-se afirmar que, ainda de acordo com essa tese, o lógos abomina toda e qualquer estrutura do mythos, chegando até a classificá-lo como sendo de sociedades primitivas, arcaicas, enquanto o lógos seria a progressividade natural do homem em direção à razão, ou seja, seria de uma sociedade mais desenvolvida.

Como se sabe, o mythos é a palavra narrativa, sacra, divina, atemporal. Não há espaço para questionamentos no mythos. Os problemas nele apresentados não chegam não a ser constituídos como problemas, já que nele já se encontra a solução antes mesmo da constituição do problema. No mythos cabe-se apenas a aceitação. Em contraponto, o lógos nasce exatamente da constituição do problema. No lógos a palavra não pode ser narrativa, deve ser explicativa com a finalidade de resolver as questões levantadas pelo homem, tido no lógos como ser racional, que busca explicar a physis, que busca questionar o mundo e seu posicionamento neste. Contudo, o lógos não rejeita totalmente o myhtos. Nascido deste, o lógos possui ainda, em seu âmago, referências a divindades. Os deuses se fazem presentes, mesmo que não sejam mais eles os responsáveis por solucionar as questões humanas.

A pólis democrática grega consistia no debate público dos temas comuns, na democracia. A filosofia, influenciada, entre outros fatores, pela derrota de Atenas para Esparta, rebateu este modelo dizendo que este não era o melhor sistema de gerir os assuntos comuns, já que as pessoas eram movidas por paixões e interesses pessoais. O “diálogo filosófico” propunha, então, que as decisões deveriam ser tomadas não pela noção de maioria, que muitas vezes não era capaz de tomar a melhor decisão, mas deveriam ser tomadas através da razão,