Exercitando um olhar diferente sobre o Arcadismo
Vou retratar a Marília,
A Marília, meus amores;
Porém como? Se eu não vejo
Quem me empreste as finas cores:
Dar-mas a terra não pode;
Não, que a sua cor mimosa
Vence o lírio, vence a rosa,
O jasmim, e as outras flores.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os Astros, voa,
Traze-me as tintas do Céu.
Mas não se esmoreça logo;
Busquemos um pouco mais;
Nos mares talvez se encontrem
Cores, que sejam iguais.
Porém não, que em paralelo
Da minha Ninfa adorada
Pérolas não valem nada,
E nada valem corais.
-Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os Astros, voa,
Traze-me as tintas do Céu.
Marília de Dirceu situa-se entre a História e a ficção, entre a imaginação e a
realidade.
Tomás Antônio Gonzaga, sob o pseudônimo de Dirceu, na primeira parte de sua
obra Marília de Dirceu apresenta-se com boa posição social, é homem livre, por isso,
capaz de encantar a sociedade mineira setecentista com uma declaração de amor nos
moldes do arcadismo, em versos populares: o casamento de Marília e Dirceu cria uma
expectativa acerca da união lícita, comungando amor, igualdade social e consentimento
das famílias, isso proporciona um envolvimento literário capaz de ultrapassar séculos e
fronteiras.
Na primeira e segunda estrofes da Lira VII, Marília é retratada a partir de
elementos relacionados à natureza – as flores – e aos elementos reconhecidamente
preciosos – pérolas, cristal, marfim. Nota-se a tendência à valorização do branco ou tons
próximos e suaves caracterizando a pureza, ou quem sabe, a eleição da amada dentro de
uma visão colonial, escravagista e classista. Esse elemento revela não apenas a
Só no Céu achar-se podem
Tais belezas, como aquelas,
Que Marília tem nos olhos,
E que tem nas faces belas.
Mas às faces graciosas,
Aos negros olhos, que matam,
Não imitam, não retratam
Nem