Ex-Votos

Dado em cumprimento de uma promessa ou em sinal de reconhecimento por uma graça recebida, o ex-voto traduz um compromisso assumido num momento de aflição, mas também de esperança, em relação a um grave problema, para o qual se pediu a intervenção miraculosa do divino. Referenciado na linguagem popular por: oferta, promessa, milagre... pode dizer-se que constitui a materialização de um agradecimento, que concretizado pelo devoto das mais diversas formas – da realização de uma simples novena ou peregrinação, à edificação de um templo, passando pela oferta de objectos de cera ou de singelos quadros pictóricos –, salda a dívida contraída para com um protector celeste –
Cristo, a Virgem ou um Santo – dando ao memo tempo público reconhecimento do poder daquele que foi medianeiro e advogado em momento de angústia.
No concelho de Vale de Cambra subsiste, ainda, um conjunto de ex-votos pictóricos, certamente parte de um grupo mais numerosos, que o desgaste causado pelo tempo e pelo descuido dos homens fez desaparecer. Neste conjunto dois exemplares pertencem à paróquia de S. Simão de Arões, onde na povoação de
Paraduça, na pequena ermida da invocação do Divino Espírito Santo, foi São Paio que a população adoptou como peculiar protector a ele recorrendo em momentos difíceis, disso sendo testemunho os dois ex-votos da segunda metade do século
XVIII, que chegaram até nós. Seguindo o esquema mais comum têm formato rectangular e no corpo da pintura duas zonas: o espaço sagrado, onde se encontram as personagens celestes cercadas por nuvens, que o delimitado e separam do profano e, o restante espaço ocupado pelos personagens intervenientes na circunstância que motivou o pedido. Junto à base, indicando-nos a cura obtida, ambos contêm singelas legendas iniciadas, como era norma, pela frase
«Milagre que fez…», que atestam o vigor da veneração a São Paio de Paraduça, na centúria de setecentos, mesmo entre pessoas de certa condição, que em ambos os casos a