Eva linguagem
FORMAÇÃO DISCURSIVA:
A MULHER VINCULADA À FIGURA
DE EVA
MANOEL PINTO RIBEIRO (UERJ, UNISUAM E
ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA)
Este artigo dá continuidade ao recorte que temos efetuado em nossa tese de doutorado na UFF (Formações discursivas sobre a mulher na música popular brasileira, de 1930 a 1945), na linha da Análise de Discurso de Michel Pêcheux.
Nessa formação discursiva, a mulher traz, em sua constituição histórica, a memória da primeira mulher, Eva. Trata-se de um interdiscurso atrelado ao discurso religioso. Para Certeau (apud MARIANI, 1997: 14), o termo “memória” deve ser compreendido “no sentido antigo do termo, que designe a pluralidade dos tempos e não se limita, portanto, ao passado”. representada nas canções de 30-45, será marcada por uma heterogeneidade discursiva.
O controle pelo discurso religioso estava presente, por meio de paráfrases do contexto bíblico. Vejamos uma sequência discursiva:
Você ganha mas não leva
Que eu sou o marido da Eva! (coro)
[...]
Que a maçã era indigesta
Fiz asneira!
Se a serpente não me engana eu comia era banana sobremesa brasileira.
(“Marido de Eva”, marcha, 1936, de Nássara e Sílvio da Fonseca).
Nota-se, nessa canção, uma relação de sentido (intertextualidade) com os textos religiosos. Portanto, todo discurso nasce em outro e aponta para outro (seu futuro discursivo). Há uma espécie de continuum, um estado de processo discursivo, resultado de processos discursivos sedimentados (ORLANDI, 2001 b: 18). de sentido”, ou “concepção” (por exemplo, em “leitura do mundo”, numa relação com a ideologia); ocorre leitura como construção de um aparato teórico-metodológico de um texto; pode-se vincular leitura à alfabetização, uma aprendizagem formal. Todos esses sentidos são delimitados pela ideia de interpretação e de compreensão, como nos
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(ORLANDI, 2001 b: 11). setores, buscam-se, para o ensino escolar, soluções metodológicas, com uma motivação apenas o conteúdo do texto,