Eu não tenho
O empirismo de Locke começa por uma crítica da teoria das ideias inatas, aquela que o cartesianismo tinha formulado levando-a sem dificuldade a um grau de perfeição dificilmente ultrapassável (livro l). Locke pretende mostrar que o pôr em causa o inatismo não arruina de modo nenhum o valor objectivo das ideias (particularmente no domínio moral). Não existem ideias inatas no espírito humano, é a famosa "tabula rasa".
Conhecer é, então, aperceber entre as ideias relações de conveniência ou de não conveniência. Locke analisa as possíveis combinações das diversas relações, assim como os diversos graus de conhecimento que daí decorrem. Por exemplo, as ideias matemáticas ou morais, não remetem para nada diferente delas próprias, não têm que se conformar com uma realidade exterior; o conhecimento adquire, então, a sua certeza da evidência intuitiva ou da demonstração. Quanto aos conhecimentos que remetem para realidades fora de nós, só a experiência pode assegurar-nos da sua objectividade.
A reflexão lockiana sobre a génese das nossas ideias e dos nossos conhecimentos desemboca no exame das funções da linguagem (livro III) e sobre o estudo crítico dos poderes do entendimento humano (livro IV). Nenhum conhecimento legítimo lhe é permitido em certos domínios: a infinidade, a eternidade e, por consequência, a divindade. A teologia é, pois, desqualificada e também a metafísica visto que o nosso entendimento não tem qualquer acesso à essência real das coisas. Não nos é permitido afirmar, por