Eu no direito
Tinha boas referências do livro. O tema parecia interessante. E não posso dizer que seja um livro ruim, pelo contrário. O autor, Loïc Wacquant, professor de Berkeley e com passagem em várias universidades do mundo no currículo, não depende disso para justificar a obra: tem-se a clara impressão de que domina o assunto. Isso porém não evitou minha irritação ao ler As prisões da miséria. O livro, muito resumidamente, trata da questão da mudança do Estado social para o que o autor chama de Estado policial e penal, cujas expressões melhor desenvolvidas são a política de tolerância zero – que tem em Nova York sua grande vitrine, a partir de onde foi vendida ao mundo todo – e o desenvolvimento da indústria privada carcerária.
O que o autor expõe é que as tais políticas de tolerância zero, além de não terem eficácia comprovada no combate à criminalidade – a criminalidade em Nova York e em San Diego caíram de maneira muito similares, ainda que utilizando de métodos distintos de lidar com o problema –, são antes uma máscara para encobrir uma política de segregação e perseguição às classes desfavorecidas, quase sempre marcadas pela questão racial. Trata-se de uma política de perseguição aos pobres, aos negros, aos latinos, aos imigrantes, aos moradores das periferias pobres, dos guetos, sob a justificativa de que a criminalidade é um traço individual de personalidade, fruto de problemas de formação moral ou deficiência no quociente de inteligência; e que são essas pessoas as responsáveis pela degradação da cidade, dos bairros, das condições sociais, e não as condições sociais responsáveis pela criação e manutenção desse exército de pequeno delinquentes que a polícia do tolerância zero visa com especial vontade.
Até aí, tudo bem. Concordo com boa parte da análise do autor. Seu livro, com bastante referências empíricas, traz mais subsídios ao debate. Me questiono, porém, qual era a intenção de Wacquant quando lançou a obra: se era fomentar um pouco