Etnografia - santo daime

SANTO DAIME – HISTÓRIA E ETNOGRAFIA

O Santo Daime teve origem nos anos trinta, através do contato do seu fundador, o seringueiro e lavrador maranhense Raimundo Irineu Serra (Mestre Irineu), com a cultura milenar indígena do consumo da bebida Ayahuasca (psicoativo resultante da junção do cipó Jagube com o arbusto Chacrona). Esse encontro aconteceu no estado brasileiro do Acre, em uma localidade próxima à fronteira com a Bolívia. Mestre Irineu foi apresentado ao chá pela tribo Ashaninka. Dessa iniciação surgiu a cristianização do seu uso, pois, sob o efeito da bebida, Mestre Irineu recebeu a missão de expandir a doutrina e utilizar todo o conhecimento nela inserida para a cura. Segundo o próprio, uma entidade feminina (associada, por ele, à Virgem Maria) foi quem lhe delegou esse trabalho. A partir desse momento, através dos efeitos do chá, surgiram os hinos (ditados pela entidade) e o nome da religião, que é um rogativo sagrado (Dai-me força, Dai-me amor, Dai-me compreensão), uma forma de a pessoa ter esses dons, mas vindos de Deus. O Daime é uma das várias ramificações que utilizam a Ayahuasca (pode-se destacar, também, a Barquinha e a União do Vegetal) e, pelas características de seu fundador (filho de escravos), tem o aspecto caboclo. Isso porque une a tradição indígena com as suas influências da cultura africana e formação católica. O local onde se realizam os trabalhos de concentração e cura, que ocorrem de quinze em quinze dias (dias 15 e 30 de cada mês), funciona como uma comunidade, com agricultura de subsistência e trocas de trabalho por produtos. Essas comunidades se espalham pelo Brasil, sendo o Céu do Mapiá, que se localiza em plena floresta amazônica, a principal e mais sagrada sede dessa religião (comparada pelos fiéis à Meca ou ao Vaticano). Ali se cultivam as plantas que resultam a Ayahuasca. Duas plantas de poder: poder de purificar, poder de revelar, poder de curar. O trabalho é dividido entre homens e mulheres. A eles cabe a função