AYAHUASCA
OS CONTEÚDOS DAS VISÕES
DA AYAHUASCA*
Benny Shanon
A ayahuasca é uma infusão vegetal psicoativa da Amazônia. Tipicamente, provoca poderosas visões, assim como alucinações em todas as demais modalidades de percepção. Essas experiências geralmente se associam a insights pessoais, ideações intelectivas, reações afetivas e experiências espirituais e místicas profundas. Também se observam alterações dos parâmetros básicos da experiência — identidade pessoal, conexão com o mundo exterior, temporalidade e os sentimentos de significação e de noese. No passado, a ayahuasca era um dos pilares centrais de várias culturas tribais da Amazônia. Hoje, a infusão ainda é instrumento corriqueiro dos curandeiros em toda a região. Além disso, no decorrer do século XX, constituíram-se no Brasil vários grupos religiosos sincréticos nos quais as tradições indígenas relativas à ayahuasca se combinam com elementos culturais não-indígenas — cristãos ou outros. Dentre esses grupos, os mais importantes são a Igreja do Santo Daime, a União do Vegetal (abreviadamente, UdV) e a Barquinha. Em todos, a ayahuasca funciona como um sacramento.
Dada a orientação psicológica deste artigo, não se fará aqui uma revisão extensa da literatura antropológica sobre a ayahuasca. Para informações pertinentes a respeito do uso indígena da mesma, o leitor deverá consultar Reichel-Dolmatoff (1971; 1975; 1978a; 1996; 1997), Dobkin de
Rios (1972; 1973), Furst (1976; 1990), Langdon (1979a; 1979b; 1992a), Luna (1986a), Luna e White (2000), Metzner (1999), bem como as contribuições em Harner (1973a), Labate e Araújo (2002) e o número especial de
América Indígena (1986). Para informações gerais sobre os grupos sincréticos que utilizam a ayahuasca, ver Polari (1984; 1992), MacRae (1992),
Centro de Memória e Documentação (1989), Brissac (1999), Groisman
(1999) e Sena Araújo (1999). Trabalho singular é a obra em colaboração do antropólogo Luna e do xamã e pintor Pablo Amaringo