ETICAAPLICADA
As relações entre a filosofia moral e a ética aplicada Marie-Helène Parizeau
As relações entre a filosofia moral e a ética aplicada constituem uma questão inteiramente contemporânea, já que a expressão "ética aplicada" mesma aparece nos Estados Unidos nos anos 1960, com a explosão de novos campos de interrogação ética no seio da sociedade. Durante os anos 1970, alguns desses campos se estabilizaram e se polarizaram como "bioética", "ética ambiental" e "ética dos negócios". Esses setores, agrupados sob o termo "ética aplicada", adquiriram progressivamente seus títulos de nobreza e são agora ensinados e praticados nas universidades, nas empresas, nos hospitais, em instituições governamentais e internacionais. Entretanto, podemos nos interrogar sobre as ligações que essas práticas e esses discursos mantêm com a longa tradição de pensamento em filosofia moral. Trata-se de uma faceta contemporânea do debate sobre a relação entre teoria e prática? Ou, ainda, de uma disciplina particular da filosofia? Ou, simplesmente, de um rótulo e de um mau uso lingüístico?
A fim de responder a essas questões, vamos primeiro examinar as condições que favoreceram a emergência da ética aplicada, depois definir com mais precisão os campos específicos da ética aplicada, para finalmente discutir sobre a natureza das ligações entre filosofia moral e ética aplicada, na medida em que estas poderiam condicionar certos desenvolvimentos futuros da filosofia moral.
Condições de emergência da “ética aplicada”
Durante toda a primeira metade do século XX, a filosofia moral anglo-americana foi amplamente dominada pela metaética. A investigação filosófica concentrou-se na análise lógica ou lingüística dos enunciados morais, interrogando-se, por exemplo, sobre o emprego, a especificidade, a significação de predicados morais como "bom", "justo", "dever" etc. Esse trabalho analítico postula-se como neutro no plano axiológico