Nos três primeiros versos, o poeta afirma a sua incapacidade (subjectiva) de ser triste ou alegre, a sua incapacidade de “ser”. Nos dois últimos faz uma interrogação de carácter geral, filosófica, ontológica, sobre a “consciência” ou a “não consciência” dos outros e a falsidade a elas associada. O homem sente e pensa, mas nele a razão e a emoção são mentira (pois não se conseguem conjugar), enquanto que a flor não sente nem pensa e, no entanto, desabrocha sem precisar de razão nem de emoção. Para a flor, florescer é um acto involuntário, tal como para o homem é um acto involuntário pensar. O poeta não consegue “ser triste a valer/Nem ser alegre deveras”, porque não consegue deixar de pensar e apenas sentir. Apesar da diferença entre a flor e o homem revelada ao longo do poema, na quarta estrofe estabelece-se uma semelhança: o destino de ambos é o mesmo – a morte. A ambos “o Fado” “faz passar”, a ambos “as patas dos deuses (...) vêm calcar”. Após constatar a inevitabilidade da morte, o poeta finaliza o poema com um apelo irónico ao “carpe diem”, ou seja, enquanto a morte não chega, deve-se aproveitar a vida, seja florindo inconscientes como a flor, seja pensando, como é inevitável no homem. Neste poema o tema “pessoano” da incapacidade de viver a vida surge articulado com o binómio “sentir/pensar” e o “carpe diem”, nos três versos iniciais em que o poeta assume “não sei ser” que, surgindo depois das duas afirmações anteriores, é como afirmar não saber