Estudar filosofia é viver filosofia?
Muito diferente do saber que chamamos de científico, que preza pela novidade no seu afã de dar resposta a tudo, o saber filosófico talvez nos pegue pelo espanto e, não fornecendo-nos a resposta, duvida. E duvida ao ponto de problematizar inclusive o mais trivial do nosso cotidiano – coisa que talvez indique que a filosofia não diz respeito a poucos, mas a todos nós, principalmente por estes dias que impõem um ritmo frenético às nossas vidas, excluindo toda a possibilidade de reflexão, de se pensar por si mesmo.
Vejamos toda a atualidade de um pensamento que a muitos soa antiquado, velho:
“É tão cômodo ser menor. Se possuo um livro que possui entendimento por mim, um diretor espiritual que possui consciência em meu lugar, um médico que decida acerca de meu regime, etc., não preciso eu mesmo esforçar-me. Não sou obrigado a refletir, se é suficiente pagar; outros se encarregarão por mim da aborrecida tarefa.” (KANT, 1783 [2012]).
“Não sou obrigado a refletir, se é suficiente pagar; outros se encarregarão por mim da aborrecida tarefa”, dizia Kant já em 1783! Aquilo que parece velho, talvez ainda tenha contorno da mais pura atualidade. Nosso tempo comprova isto!
E na contramão desta “minoridade intelectual”, desta tutela que insistimos manter em nossas vidas, Kant nos indica o contraponto:
“Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é responsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de um outro. É a si próprio que se deve atribuir essa minoridade, uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere aude! [Ousa saber!]Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é portanto a divisa do Esclarecimento.” (KANT, 1783 [2012], grifo do autor).