Estudante

As obras do movimento cultista, caracterizadas pelo excesso de zelo com a forma e as palavras, muito contrariavam Padre Antônio Vieira. Queixava-se de que os símbolos utilizados tornavam a lógica dos textos incompreensível, distante dos leitores e, dessa forma, tinham seu fim em si mesmos. Vieira defende que o texto deveria aproximar-se ao máximo do leitor de forma que, ao explicar-se, retirasse todas as nuvens do entendimento do receptor. As ideias deveriam ser apresentadas sem símbolos que dificultassem a compreensão e, sempre que possível, deveriam ser demonstradas objetivamente, embasando seu raciocínio. A obra de Vieira priorizava apresentar ideias de forma clara e concisa, na contramão do cultismo. Todas as características textuais defendidas por Antônio Vieira são provenientes do movimento literário barroco surgido em meados do século XVII, na Espanha, conhecido como Conceptismo ou Quevedismo (seu principal representante foi o escritor espanhol Quevedo). Este estilo enfatiza o plano das ideias no texto procurando torná-las o mais compreensível possível para o leitor como uma forma de tentar persuadi-lo através de comparações, parábolas. Seus textos valorizam o conteúdo, construindo um raciocínio lógico, de cunho racionalista, com vocabulário que o aproxima do receptor. Além disso, são cheios de metalinguagem, isto é, voltam-se para dentro de si mesmo, dando informações para o leitor o entender melhor.
Temos, em Padre Antônio Vieira um expoente desse estilo, como nos sugere seu “Sermão da Sexagésima”, que pode ser considerado um modelo de Conceptismo. Este sermão tem, obviamente, cunho essencialmente religioso, mas, diferentemente dos demais sermões proferidos nas igrejas, procura demonstrar quais são as partes que o compõe, dando um “esquema” do que seria necessário para desenvolver um texto compreensível e palpável para o leitor/ouvinte. Uma de suas principais metas é descrever o que há de errado no rebuscamento excessivo contido em certas obras