Estudante
VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno, 1516.
Embora “Auto da Barca do Inferno” seja uma peça escrita na Idade Média, seus conceitos e características são deveras contemporâneos do século XXI. Gil Vicente fez um recorte da psicologia das personalidades de sua época, que podem ser percebidos nos dias de hoje, como: ações repletas de falso moralismo, tal qual dos personagens ricos, fidalgo e sapateiro, que, por mais que tenham feito mal a pessoas de classes inferiores, acham-se merecedores da barca do céu por terem cumprido obrigações católicas como rezar, ir à missa, e fazer a confissão.
O auto é moralizante e procura passar os bons conceitos aos que leem, entretanto, o personagem mais interessante é o Diabo, não só mais cativante como também recebe bem mais foco e espaço que o Anjo. O Diabo aceita e invita todos a sua barca, faz piadinhas, discute e ouve os argumentos das outras personagens, enquanto o Anjo é severo e só aceita o Parvo e os Cavaleiros.
A peça começa com os preparativos do navio do Diabo, que demonstra muita euforia em seu encargo de transportar almas para o inferno. Seu linguajar é repleto de termos técnicos de navegação, demonstrando conhecimento e sua qualidade de excelente capitão. O Anjo só toma voz quando alguém se dirige a ele. A primeira personagem a discutir sobre qual barca embarcará é o Fidalgo D. Anriques, todos os personagens que têm como destino a barca do inferno, levam consigo uma insígnia característica de suas vidas e vícios, a do Fidalgo é um pajem que carrega uma cadeira e leva o manto do seu senhor. O diabo imediatamente o condena à sua barca e conta que não há ninguém que reze por ele ou que chore sua morte, já que sua esposa o traia. Não contente, o Fidalgo recorre ao anjo que, quase indiferente, o acusa de tirania e de ter abusado dos pobres, alega que seus pertences não cabem na barca do céu e que terão bastante espaço na barca do inferno, entretanto, o Diabo não deixa que