Estudante
“Amor, que o gesto humano na alma escreve” – Luís de Camões
“Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.
A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.
Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoidece, se cuida que é verdade.
Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.”
Análise Temática: O soneto se resume a uma descrição das fases de um Amor personificado, que tem ação sobre um sujeito atraído involuntariamente. Podemos sintetizar quatro momentos de ação do Amor, um em cada estrofe. A primeira estrofe idealiza as lembranças que o eu lírico tem de um amor que traz felicidade. Como podemos observar, ocorre uma personificação em objetos e sentimentos como “Amor” e “Vista”. Tal Vista é dita como naturalmente inibida, porém se liberta ao ver o Amor. A questão de “converter a dor ao sofrimento doce e leve” já nos traz a ideia de contentamento do sujeito sobre a dor que o amor pode trazer. Mesmo que seja dor, é doce e leve. Logo na terceira estrofe observamos um novo efeito do Amor, o enlouquecimento. E é a partir daí que o Amor se mostra efêmero, podendo induzir o sujeito que ama, a implorar por piedade, e logo se contentar com a dor infinita.
Análise Estrutural:
O soneto se configura estruturalmente a partir de quatro estrofes, com quatro versos nas duas primeiras, e três nas duas últimas. Os versos terminam com –EVE, -IA, -IA, -EVE, nas primeiras duas estrofes. Utiliza –ADE,ENTO,ADE na terceira, e –ENTO,ADE,ENTO na última. Ao codificar temos ABBA, ABBA, CDC, DCD, sendo ABBA, construção utilizada em muitos sonetos de Camões.
“Retrato em Branco e Preto” – Tom Jobim
“Já conheço os passos dessa estrada