estruturadas
Em um artigo escrito após a morte de Theodor W. Adorno, Habermas (1993) presta uma última homenagem ao seu ex-professor. Ele relata que, algumas semanas antes de morrer, Adorno havia lhe contado uma história sobre o talento de Chaplin. Numa recepção aos atores do filme Os melhores anos de nossa vida, Adorno contou que, ao estender a mão para cumprimentar o ator que havia perdido as duas mãos na guerra, teria estremecido ao deparar-se com as duas garras da prótese metálica. Segundo ele, Chaplin teria reagido instantaneamente, ao presenciar a cena, traduzindo-a em pantomima e tentando dissimulá-la, em vão, ante o seu horror instintivo.
Para Habermas, essa história contada sobre Chaplin é, na verdade, a história do próprio Adorno. Ao longo de sua vida, ele teria se contraposto prática e teoricamente à frieza representada pela subjetividade burguesa, acreditando que fosse uma das responsáveis por situações como as de Auschwitz. Em decorrência disso, teria desenvolvido, com certo virtuosismo, uma "hipersensibilidade" que, antes do que um "olhar malévolo do misantropo", seria "o resíduo de uma ingenuidade não-exteriorizada e constantemente mobilizável" (Habermas, 1993, p. 139). Desse ponto de vista, o que a mímica do grande cômico teria conseguido naquele instante teria sido desfazer a tensão de um homem que, após o susto diante dos membros frios do ator, tentava recuperar o autocontrole. Esse teria sido um tema recorrente do discurso e das profundas análises contidas na obra filosófica e, mais do que isso, algo próprio do caráter de Adorno, que muitos teriam explorado em função de sua suposta
Ao centrar sua análise na crítica à razão subjetiva e na denúncia de que em sua gênese moderna reside o que denomina de autopreservação selvagem2, Habermas elabora indicativos precisos sobre os eixos centrais em torno dos quais gravitou o pensamento crítico de Adorno, fazendo jus ao rol de problemas por ele abordado; e auxilia a compreendê-lo