estrutura e pervesão
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ESTRUTURA E PERVERSÃO
"Todo o problema das perversões consiste em conceber como a criança na sua relação com a mãe, relação constituída na análise não pela sua dependência vital, mas pela sua dependência de seu amor, isto é, pelo desejo de seu desejo, identifica-se ao objeto imaginário deste desejo enquanto que a mãe ela mesma o simboliza no falo". (Lacan,Écrits,p.554)
Desde a época da teoria da sedução, Freud se viu às voltas com o problema da perversão. Em janeiro de l896
[Manuscrito K] ele já se perguntava o que, afinal, diferenciava uma perversão de uma neurose.1 Esta questão vai persegui-lo durante muito tempo.
Desenvolvendo a sua teoria a partir do ponto de vista da neurose, por outro lado, percebendo que a perversão era uma disposição geral, original da pulsão sexual, Freud encontra dificuldades em conceituar a perversão, diferenciado-a da neurose. O polimorfismo da sexualidade e o fato de que os desvios se encontram em quase todos os seres humanos, vai levá-lo à famosa formulação: a neurose é o negativo da perversão.
Tal fórmula vai dar lugar a uma avalanche de interpretações abusivas, onde a neurose é sempre identificada como o resultado de um recalque patológico, enquanto a perversão seria exatamente o resultado da falta de recalque. Ou, em outras palavras, a perversão seria fruto da falta de elaboração das pulsões parciais. Vários autores vão se insurgir contra esta tendência (Lacan, Masud Kahn,
Joel Dor, Patrik Valas, Joice Mac Dougall etc).2
De qualquer forma, na primeira teoria de Freud a perversão ainda não pode ser concebida como uma entidade e, a fortiori, como uma estrutura. A perversão aí é vista como um modo arcaico de relação do homem com suas pulsões, explicando-se por uma dissociação e/ou por uma fixação.
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Cf. A Correspondência Completa de S. Freud para Wilhelm Fliess (Rio de Janeiro:Imago,1896), p. 164.
Cf. J. Lacan, O Seminário, livro 4, A