Estamira e a liga
Jung à descoberta da teoria da sombra Jung, bem familiarizado com a psicanálise freudiana, conhecia a existência do mundo recalcado do inconsciente. Mas a ideia de este ser formado por recalcamentos de entidades psicológicas pessoais não era do seu agrado. Precisava de ir mais longe. As suas pesquisas sobre os mitos, os sonhos, as desilusões psicóticas e ainda o estudo de desenhos feitos por povos primitivos e por crianças, levaram-no à conclusão de que existe um outro inconsciente mais profundo, “o inconsciente colectivo”. Jung define-o como a memória de um conjunto de imagens ou de motivos, inata e comum a toda a humanidade. Chamou a estas configurações universais “arquétipos” porque se encontram em todas as civilizações. Para ele, a sombra era um desses arquétipos fundamentais. Formação de uma sombra mordaz e desagregada Para sermos mais precisos quanto à natureza da sombra, podemos dizer que se assemelha a variadas constelações, cada uma delas constituindo um “complexo psíquico”. Por sua vez, cada complexo é composto por um conjunto organizado de imagens, palavras e emoções, formando uma estrutura autónoma e dissociada do eu consciente. Esta estrutura constitui uma “sub-personalidade” comparável a uma “personagem” de uma peça de teatro, autónoma, independente do encenador e dotada da sua própria personalidade. Estes complexos surgem muitas vezes nos sonhos do homem. Por vezes exercem sobre ele uma influência tão forte que ele se sente literalmente possuído. Desta forma, o homem faz o que não quer e não pode fazer aquilo que desejaria, como lamenta S. Paulo ao falar do “homem velho” que há em si(*). (*) Carta de S. Paulo aos Romanos 7,