Estado, mercado e desenvolvimento
Robert Boyer
Um debate velho de vários séculos Na origem da economia política já se encontrava o problema do desenvolvimento e a questão do papel específico do Estado e do mercado nesse processo complexo. William Petty, François Quesnay e Adam Smith interrogavam-se: o mercado precisa do Estado? Ou, ao contrário, o vigor do mercado irá privar o Estado de seus atributos? Para favorecer o desenvolvimento é preciso mais ou menos Estado? (Sen, 1988: 10). Três séculos mais tarde, as problemáticas e as respostas em termos de estratégias de desenvolvimento testemunham uma configuração original (Chenery & Srinivasan, 1988). – Em primeiro lugar, a economia política, que se tornou análise e depois ciência econômica, esclareceu notavelmente os conceitos de base, elaborou modelos teóricos do funcionamento de uma economia de mercado, delimitou os determinantes do crescimento a longo prazo e descobriu a diversidade dos fatores políticos, econômicos e sociais que governam a ação do Estado em favor do desenvolvimento. – Em seguida, a história econômica deste meio século passado ofereceu grande número de fenômenos originais: novos países foram admitidos no clube das economias desenvolvidas, outros conheceram períodos de estagnação e de crise, desmentindo os prognósticos otimistas feitos a seu respeito e, é evidente, a heterogeneidade das trajetórias nacionais na própria época da mundialização não deixou de renovar as reflexões teóricas (Boyer & Drache, 1996). – Enfim, enquanto a economia do desenvolvimento, construída sobre a hipótese de uma imperfeição dos ajustes de mercado, constituiu-se em um campo autônomo após a Segunda Guerra Mundial, nos anos 80 uma certa reunificação sobreveio, tanto em matéria de teoria – visto que a análise do desenvolvimento tornou-se um ramo da teoria do crescimento – quanto de política econômica em favor do desenvolvimento. Desse modo, por todo o mundo, a maior parte dos