Espinosa
CÉSAR COLERA BERNAL *
INTRODUÇÃO
D
e início, o mais importante a se esclarecer dos modos é o fato de se tratarem de realidades segundas, derivadas. Logo, em estrita conseqüência, a elas deve se chegar, do ponto de vista estritamente gnosiológico, partindo daquilo de que derivam; ou seja,
“verticalmente”. É precisamente a isto que responde
– não se devendo por tanto a uma pura questão de estilo, como alguns acreditaram – o método spinoziano, a ordo geometricus, pois permite uma explicação do ser
“de cima abaixo”, indo do que é primeiro na ordem da natureza ao que é posterior. Desta maneira, por estar contido o conceito dos modos na supra categoria
“ser” (categoria que Spinoza, em harmonia com
Aristóteles, denominará substantia), tal como as propriedades de um triângulo o estão em sua definição, preciso será que partamos da teoria da substância para, em ela e por ela, podermos precisar o conceito de modos.
1.0 A SUBSTÂNCIA
Spinoza inicia, assim, da definição de substância, adotando uma formulação semelhante à cartesiana: o que existe em si e por si e concebido (definição
III da ÉTICA)1. Desta definição, movido puramente pela necessidade de rigor lógico, extrai Spinoza a conseqüência que Descartes e Malebranche não se atreveram, talvez por embaraços de tipo religioso, a formular: somente há uma substância. Substância divina, obviamente, pois só Deus preenche o que tal definição impõe. A Substância é o absolutamente infinito (pois está constituída por infinidade de atributos), é o eterno
*
Professor de Filosofia do INSTITUTO TEOLÓGICO-PASTORAL DO
CEARÁ - ITEP-CE e Mestrando em Filosofia pela UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO CEARÁ - UECE.
1
As citações da ÉTICA foram extraídas do volume dedicado a
Spinoza na coleção Os Pensadores, trad. Joaquim de Carvalho et al, São Paulo, Abril, 1997. Todas as citações que não indiquem expressamente outra obra o são da ÉTICA.
REVISTA Conatus - FILOSOFIA
DE