Era uma vez na américa
Entre todos os grandes diretores, dois em particular aprenderam a manipular o tempo cinematográfico (a duração de um acontecimento visto na tela, que nem sempre é igual ao que teria a mesma cena na vida real) com uma perícia que superou os demais colegas. Um deles, Alfred Hitchcock, se tornou uma unanimidade. O outro, Sergio Leone, nem tanto. Mas é certo que nenhum outro cineasta a não ser Leone, nem mesmo o mestre inglês do suspense, conseguiria construir uma seqüência tensa e angustiante a partir da mais trivial das imagens do cotidiano: um homem mexendo açúcar numa xícara de café. Esta cena está em “Era uma Vez na América” (Once Upon a Time in America, EUA, 1984). Ela é quase imperceptível dentro da narrativa épica de quase quatro horas, mas ilustra perfeitamente como funciona o cinema operístico – um cinema grandioso, maior que a vida – de Leone.
Trata-se de um momento de confronto entre os dois personagens principais do filme, os amigos Noodles (Robert De Niro) e Max (James Woods). Ambos são mafiosos judeus violentíssimos, que organizaram uma gangue mafiosa em Nova York e dirigem juntos o negócio, mas andam se estranhando. Naquele instante em particular, estão a ponto de brigar – e os demais membros da gangue sabem que se isso acontecer, vai haver sangue. Desta forma, o silêncio dentro da sala é absoluto. Ouve-se apenas o ruído da colher de Max batendo contra as paredes de porcelana branca da xícara. O barulho soa cada vez mais alto. A câmera corta entre planos gerais e close ups dos homens dentro da