Epitáfio
Os sentimentos dentro de mim gritavam, esperneavam, suplicavam sua liberdade. Fazendo da agonia que perpassava o meu corpo petrificando-me, um indício de sua tão intensa necessidade de se atravessá-lo por sinais vitais e fazer vibrar as minhas mãos em uma frequência delirante de nostalgia. Cada pulso que me movia aprofundava a superfície do papel, o marcando com o ardor de um risco feroz. A caneta como figurante de um drama complexo, resistiu a força exercida sobre ele e não decaiu em momento algum da dança.
Ao fim do espetáculo, fechei o caderno e o guardei atrás de um arbusto que se encontrava perto da pedra. Olhei para o céu. O Sol se escondia atrás das nuvens, o crepúsculo estava próximo. O silêncio me consumiu, minha garganta começou a arder, a ânsia pelo grito me corroía como brasa derretida, mas não existia som algum, ouvia apenas o ritmo das batidas do meu coração cada vez mais lento.
O tempo passava. Percebi que o Sol deitava sobre o horizonte, abandonou-me. Foi embora iluminar outro lugar, devia ser porque não era digna de seu brilho. As lágrimas escorriam sobre o meu rosto e já não existiam mais raios de luz para secá-lo. O cansaço apoderou-se do meu corpo, deixei-me levar por ele. Adormeci. O que restou da poetisa que jaz nessa pedra está escondido nas entrelinhas de sua obra abraçada por um arbusto logo ali.
Autor(a): J. A. Pimenta