Epistemologia Feminista
EPISTEMOLOGIA FEMINISTA, GÊNERO E HISTÓRIA*
Margareth Rago
Depto de História - UNICAMP.
Introduzindo o debate
Nos anos oitenta, Michelle Perrot se perguntava se era possível uma história das mulheres, num trabalho que se tornou bastante conhecido, no qual expunha os inúmeros problemas decorrentes do privilegiamento de um outro sujeito universal: a mulher1
Argumentava que muito se perdia nessa historiografia que, afinal, não dava conta de pensar dinamicamente as relações sexuais e sociais, já que as mulheres não vivem isoladas em ilhas, mas interagem continuamente com os homens, quer os consideremos na figura de maridos, pais ou irmãos, quer
enquanto
profissionais com os quais convivemos no
cotidiano, como os colegas de trabalho, os médicos, dentistas, padeiros ou carteiros.
Concluía pela necessidade de uma forma de produção acadêmica que problematizasse as relações entre os sexos, mais do que produzisse análises a partir do privilegamento do sujeito. Ao mesmo tempo, levantava polêmicas questões: existiria uma maneira feminina de fazer/escrever a história, radicalmente diferente da masculina? E, ainda, existiria uma memória especificamente feminina?
Em relação à primeira questão, Perrot respondia simultaneamente sim e não. Sim, porque entendia que há um modo de interrogação próprio do olhar feminino, um ponto de vista específico das mulheres ao abordar o passado, uma proposta de releitura da História no feminino. Não, em se considerando que o método, a forma de trabalhar e procurar as fontes não se diferenciavam do que ela própria havia feito antes enquanto pesquisadora do movimento operário francês. Entendia, assim, que o fato de ser uma historiadora do sexo feminino não alterava em nada a maneira como estudara e recortara o objeto. Na verdade,
*Este artigo foi publicado em Pedro, Joana; Grossi, Miriam (orgs.)- MASCULINO,
FEMININO, PLURAL. Florianópolis: Ed.Mulheres,1998
1
Michelle Perrot - UNE HISTOIRE DES FEMMES EST-ELLE