Epidemias e medicina no brasil império
“Ano de mangas, ano de febre amarela”. No Brasil Império, as epidemias eram relacionadas com calor e umidade, e tão frequentes quanto as frutas da época
Por Jaime Benchimol*
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15/10/2010
Quando os exércitos napoleônicos penetraram em Lisboa, ainda se avistava no horizonte a esquadra que, sob escolta inglesa, transportava o príncipe regente D. João e sua corte para o Rio de Janeiro, onde desembarcaram em 8 de março de 1808. O novo estado luso-brasileiro foi então aparelhado com várias instituições novas: Imprensa Régia, Academia Real Militar, Biblioteca Real etc. Praticada por uma constelação de tipos sociais e raros médicos com formação universitária, a medicina tornou-se instituição à parte, com os cursos de cirurgia e anatomia nos hospitais militares do Rio de Janeiro e de Salvador (1808), que se transformaram, em 1832, nas duas únicas faculdades de medicina que o país teve até o século XX.
Os problemas de saúde do Brasil só então começaram a ser debatidos, nessas instituições e na Sociedade de Medicina e Cirurgia, transformada, no período regencial, na Academia Imperial de Medicina (1835). Os médicos aí encastelados comemoravam a ausência da febre amarela, peste bubônica e cólera, doenças que devastavam a Europa e outras regiões. Isso fortalecia a argumentação dos ‘nativistas’ contra a crença disseminada entre europeus de que os trópicos eram irremediavelmente malsãos, impermeáveis à civilização.
A febre amarela ‘aportou’ no império brasileiro no verão de 1849-50. No Rio de Janeiro, atingiu 90.658 e matou 4.160 de seus 266 mil habitantes (houve quem falasse em até 15 mil mortes). O impacto foi igualmente elevado em Salvador e Belém, então com 45,5 mil e 16 mil habitantes, respectivamente.
Dividido entre senhores e escravos, como todas essas cidades, o Rio de Janeiro prosperava, articulando a lavoura escravista do café em expansão no vale do Rio Paraíba com o